O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, e sua competitividade no mercado global deve-se, em parte, à adoção de tecnologias modernas no manejo das lavouras. Entre essas ferramentas, os herbicidas desempenham um papel fundamental no controle de plantas daninhas, gerando maior produtividade e qualidade das culturas. Seu uso, porém, exige conhecimento técnico para alcançar eficiência e segurança ambiental.
Os herbicidas podem ser classificados em duas categorias principais: sistêmicos e de contato. Essa divisão reflete o modo como o produto interage nas plantas e se movimenta em seus tecidos. Apesar de terem funções semelhantes, as diferenças entre os dois tipos são cruciais para determinar sua aplicação em diferentes cenários e sistemas de manejo.
Neste artigo, serão exploradas as características dos herbicidas sistêmicos e de contato, destacando sua forma de atuação, movimentação nas plantas e os cuidados necessários em suas aplicações.
O que é um herbicida sistêmico?
Os herbicidas sistêmicos são aqueles que, após serem aplicados na planta, são absorvidos e translocados internamente para atingir tecidos específicos. Sua principal característica é a capacidade de translocação, permitindo que eles atuem também em áreas distantes do ponto de aplicação.
Os herbicidas sistêmicos utilizam os sistemas de transporte vascular das plantas para alcançar áreas distantes do ponto de aplicação. Podem se deslocar via floema, que distribui o produto junto aos açúcares gerados na fotossíntese, ou pelo xilema, conduzido pela água absorvida nas raízes em direção às folhas.
Essa dupla via de translocação é uma das razões pelas quais os herbicidas sistêmicos são preferidos no manejo de plantas daninhas perenes. Ao atingir as raízes e estruturas de reserva, esses produtos proporcionam a eliminação completa da planta, reduzindo o risco de rebrotas.
Diversos herbicidas possuem essa capacidade de translocação nas plantas. É o caso do glifosato, do imazetapir e do 2,4-D.
O que é um herbicida de contato?
Os herbicidas de contato, por sua vez, diferem dos sistêmicos por atuarem exclusivamente nas partes da planta que entram em contato direto com o produto, ou muito próximas a elas. Isso significa que sua ação é limitada à área pulverizada, sem se mover para outros órgãos do vegetal.
A eficácia desse tipo de herbicida depende da cobertura uniforme das folhas e dos outros tecidos expostos da planta daninha. Sua movimentação é restrita a curtas distâncias dentro das células. O transporte pode se dar por vias:
- apoplástica: ocorre nos espaços extracelulares e nas paredes celulares, sendo direcionada pelo fluxo de água no xilema. Essa via é limitada às áreas externas das células.
- simplástica: acontece no interior das células, por meio do citoplasma interligado por plasmodesmos (pequenas conexões entre as células). Essa via é mais lenta, mas permite a penetração em regiões intracelulares próximas ao ponto de contato.
- ambas: alguns herbicidas combinam essas duas vias, permitindo maior eficácia em superfícies tratadas.
Devido à sua ação localizada, os herbicidas de contato são ideais para o controle de plantas daninhas em que a rápida eliminação das folhas é necessária. No entanto, sua eficiência pode ser comprometida se a aplicação não for feita de forma homogênea, destacando a importância de técnicas de pulverização adequadas e equipamentos calibrados.
Entre os princípios ativos desse grupo, podem ser citados o diquat e o lactofen.
E por possuírem características distintas de ação, alguns cuidados devem ser tomados no momento de aplicação de cada um desses produtos.
Diferenças na aplicação de herbicidas de contato e sistêmicos
A aplicação de herbicidas de contato e sistêmicos exige estratégias distintas, considerando as características de cada tipo de produto e sua interação com as plantas daninhas. Fatores como o tamanho das gotas, a cobertura da superfície foliar e o momento ideal de aplicação influenciam diretamente na eficácia do controle e no desempenho geral do tratamento.
Tamanho das gotas e cobertura foliar
O tamanho das gotas é um dos fatores mais importantes no momento da pulverização e deve ser ajustado conforme o tipo de herbicida.
- Herbicidas de contato: exigem gotas finas a médias para uma cobertura foliar uniforme. Esses produtos dependem de um contato direto com as partes expostas da planta, como folhas e caules, para exercer sua ação. Quanto maior o número de gotas por centímetro quadrado, melhor será a eficiência no controle das plantas daninhas. Por isso, é fundamental investir em uma pulverização que maximize a área coberta pelo herbicida.
- Herbicidas sistêmicos: podem ser aplicados com gotas médias a grossas, pois sua eficácia não está diretamente ligada à quantidade de cobertura foliar, mas sim à capacidade de absorção e translocação dentro da planta. O uso de gotas maiores também ajuda a reduzir o risco de deriva, podendo tornar a aplicação mais segura.
Momento de aplicação e necessidades específicas
O momento correto da aplicação também varia entre os dois tipos de herbicidas, considerando suas propriedades e modos de ação.
- Herbicidas de contato: normalmente, esses produtos são aplicados após a emergência das plantas daninhas, já que não possuem ação residual no solo. Eles atuam exclusivamente nas partes visíveis das plantas, o que reforça a necessidade de uma aplicação bem distribuída. Adjuvantes podem ser utilizados para melhorar a adesão e a retenção do herbicida nas folhas.
- Herbicidas sistêmicos: embora não exijam uma cobertura foliar tão ampla quanto os herbicidas de contato, os produtos sistêmicos precisam de um tempo adequado para serem absorvidos pelas plantas. Esse intervalo, conhecido como período de absorção, é crucial para que o herbicida alcance as raízes e outras estruturas internas por meio do floema e do xilema.
Compreender as diferenças no momento da aplicação de herbicidas de contato e sistêmicos é essencial para otimizar sua eficácia no campo. No entanto, alguns outros importantes pontos inerentes aos dois tipos de produto devem ser levados em consideração.
Cuidados gerais para ambos os tipos de herbicidas
Alcançar a eficiência dos herbicidas e prevenir problemas como resistência das plantas daninhas ou custos desnecessários envolve a adoção de boas práticas durante a aplicação.
Condições climáticas ideais
As condições ambientais desempenham um papel crucial na eficácia dos herbicidas:
- temperatura: aplicações realizadas em temperaturas moderadas tendem a ser mais eficientes, evitando-se extremos de calor ou frio.
- umidade: níveis mais elevados de umidade relativa do ar favorecem a retenção do produto nas folhas, reduzindo a evaporação.
- chuva: a previsão de precipitação nas próximas 6 a 12 horas pode comprometer o resultado, já que a água pode lavar o herbicida antes de sua absorção.
- vento: ventos moderados ajudam a evitar problemas de deriva.
Manutenção e calibração dos equipamentos
O estado dos equipamentos impacta diretamente na uniformidade e na precisão da aplicação:
- calibração: a regularidade na verificação da vazão e do padrão de pulverização dos bicos permite uma aplicação homogênea.
- limpeza: o tanque, as mangueiras e os bicos precisam estar limpos para evitar contaminações cruzadas entre produtos de aplicações anteriores.
Rotação de mecanismos de ação
A resistência das plantas daninhas é minimizada por meio da rotação de herbicidas com diferentes modos de ação:
- diversificação: o uso alternado de moléculas reduz a pressão de seleção por resistência.
- integração: a combinação com práticas culturais, como rotação de culturas e plantas de cobertura, preconizadas em um manejo integrado, contribui para o controle eficaz das plantas daninhas.
Treinamento e uso de EPIs
A segurança na aplicação depende do preparo técnico da equipe e do uso de equipamentos de proteção:
- capacitação: conhecimentos adequados sobre as técnicas de aplicação e manuseio dos herbicidas promovem maior eficiência e segurança.
- EPIs: o uso de itens como luvas, botas, máscara, macacão impermeável e óculos protege o aplicador contra exposições diretas ao produto.
Registro e boas práticas agrícolas
O registro detalhado das aplicações permite uma gestão eficiente do manejo:
- documentação: informações como tipo de produto, dose, data, condições climáticas e estádio das plantas daninhas fornecem dados úteis para análises futuras.
- descarte: a devolução de embalagens vazias em conformidade com as normas ambientais assegura um manejo sustentável.
Essas práticas tornam os herbicidas ferramentas valiosas no controle de plantas daninhas, promovendo sua integração em sistemas de manejo sustentável e alinhados à proteção ambiental e à rentabilidade da atividade.
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